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Jack, o estripador
Jack, o estripador

Em 1888, uma série de crimes estarreceu Whitechapel, no leste da capital britânica. A brutalidade impressionava até para os padrões da região, a mais violenta da capital britânica. De abril daquele ano a fevereiro de 1901, foram assassinadas 11 mulheres, a maioria (senão todas) prostitutas, mortas com cortes de faca na garganta, algumas delas completamente mutiladas e demovidas de alguns de seus órgãos.

Em um momento ou outro, todas essas vítimas foram associadas à figura de Jack, o Estripador. Mas apenas cinco delas constam na lista das mais prováveis vítimas do assassino, uma relação chamada de “canonical five” (as cinco vítimas canônicas), defendida pela maioria dos pesquisadores que estudaram o caso, segundo a Metropolitan Police. São elas:

Mary Ann Nichols (Sexta, 31 de agosto de 1888)
Annie Chapman (Sábado, 8 de setembro de 1888)
Elizabeth Stride (Domingo, 30 de setembro de 1888)
Catharine Eddowes (Domingo, 30 de setembro de 1888, 45 minutos depois)
Mary Jane Kelly (Sexta, 9 de novembro de 1888)

Autor do livro mais vendido até hoje sobre o assunto (The Complete Jack The Ripper, sem tradução para o português), Donald Rumbelow é um dos que defende essa lista de vítimas. Rumbelow já foi curador do Museu da City of London Police e presidente da associação britânica de escritores criminalísticos. Hoje dá palestras sobre o tema e guia grupos de turistas e curiosos toda semana em um tour sobre o serial killer pelas ruas de Londres. Para o filme Do Inferno (From Hell, de 2001), Rumbelow ficou encarregado de apresentar as minúcias do caso ao ator Johnny Depp.

Outro pesquisador que resolveu estudar o caso é Trevor Marriott, ex-detetive da Divisão de Homicídios da Metropolitan Police que se debruça sobre o mistério desde 2002. Ele já lançou um livro sobre o assunto em 2005 (Jack, o Estripador: A investigação do século 21) e vai publicar outro no início de setembro, com mais arquivos da polícia sobre o mistério.

Em suas investigações, Marriott concluiu que ao menos três dessas cinco vítimas foram mortas pelo mesmo assassino: Mary Ann Nichols, Annie Chapman e Catherine Eddowes. Ele aponta um marinheiro mercante alemão de nome Carl Feigenbaum como seu principal suspeito. O ex-detetive acredita ainda que a ideia de que o serial killer removesse os órgãos das vítimas seja apenas um mito.

Mas 125 anos depois dos assassinatos, Marriott ainda espera respostas. “Permaneço um eterno otimista de que talvez um dia, em um futuro não tão distante, o pedaço final desse quebra-cabeça possa aparecer ou alguém que traga documentos de 1888 com respostas para as perguntas que ainda cercam este mistério”.

 

Os assassinatos

Mary Ann Nichols

Sexta, 31 de agosto de 1888

Foi a primeira vítima. À 1h30 da manhã, Mary Ann Nichols teve sua entrada recusada em um alojamento, já que não possuía dinheiro suficiente para pagar. Antes de ir embora, disse que sairia para obter a quantia nas ruas. Às 3h40, foi encontrada morta, estirada no chão, com a saia levantada. A garganta estava cortada de uma orelha a outra, e a lâmina penetrou até a coluna vertebral.

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Annie Chapman

Sábado, 8 de setembro de 1888

Oito dias depois, outra prostituta, Annie Chapman, foi encontrada morta, em condições muito semelhantes às de Mary Ann Nichols. A cabeça estava praticamente separada do corpo e seus anéis e dinheiro estavam intactos e colocados ordenadamente junto aos restos mortais do cadáver. O médico da polícia, George Bagster Phillips, afirmou que o instrumento usado para os cortes na garganta e no abdômen foi uma faca afiada, de 15 a 20 centímetros e que os cortes indicavam que o criminoso possuía bons conhecimentos de anatomia humana. Segundo relato do médico para os jornais, o intestino da vítima havia sido removido e posicionado sobre seus ombros, e parte de seu útero, constatou-se depois, também fora extirpado.

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Elizabeth Stride

Domingo, 30 de setembro de 1888

A vítima foi encontrada morta em um pátio escuro, também em Whitechapel. Apresentava cortes na garganta. Diferentemente dos dois casos anteriores, não tinha mutilações no abdômen. Alguns pesquisadores defendem que o assassino pode ter sido interrompido pela aproximação de outra pessoa. O fato é que, a uma distância pequena dali, uma hora depois, houve mais um assassinato.

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Catherine Eddowes

Domingo, 30 de setembro de 1888

A noite é conhecida como o “Evento duplo”, em que Jack, o Estripador teria assassinado duas mulheres. Horas antes, Catherine Eddowes havia sido detida por estar deitada bêbada no meio da rua. Quando aparentava maior sobriedade, foi liberada. Seu corpo foi encontrado na Mitre Square, com o rosto desfigurado, cortes no pescoço, incisões no abdômen e o intestino para fora.

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Mary Jane Kelly

Sexta, 9 de novembro de 1888

As imagens são assustadoras. O corpo de Mary Jane Kelly foi encontrado na cama de um quarto de uma estalagem por um cobrador de aluguel. Seu corpo estava desmembrado, a cabeça estava praticamente separada do resto do corpo e o rosto, irreconhecível. Sem outras pessoas por perto, em um ambiente fechado, o assassino teve tempo para seu crime mais desconcertante. Os cortes no pescoço eram apenas detalhe. Esse foi o último assassinato atribuído pela maioria como obra de Jack, o Estripador.

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A investigação

A ciência forense ainda engatinhava na época. Entre as limitações mais óbvias estavam a falta de exames de DNA, impressões digitais e fotografias das cenas dos crimes. Além dessas restrições, a investigação convivia com suposições inusitadas para os dias atuais. Uma das vítimas, por exemplo, teve seus olhos fotografados para que se pudesse descobrir as últimas cenas vistas por ela – como o rosto do assassino.

Para dificultar o trabalho da polícias, as mortes ocorreram em territórios de duas forças policiais diferentes: a City of London Police e a Metropolitan Police. Rumbelow sugere em seu livro que o assassino possa ter premeditado essa logística para atrapalhar os investigadores.

De acordo com a Marriott, outro fator, até então inédito, dificultou ainda mais a condução das investigações: a imprensa. Com custo reduzido pela produção em massa e então recentes facilidades de impressão, os tabloides encontravam-se em ascensão na época. Cartas falsificadas enviadas à polícia, manchetes sensacionalistas, informações deturbadas e subornos a agentes estão entre as ações dos jornalistas naquele período. A falsificação de fatos se tornou prática comum no decorrer daqueles meses, a fim de aumentar a circulação e não deixar a história morrer antes da próxima vítima do serial killer.

 

As cartas

Depois da morte de Annie Chapman, os periódicos e a polícia começaram a receber cartas pretensamente escritas pelo serial killer. Todas (ou quase todas) não passaram de trote.

Mesmo assim, uma delas teve importância crucial para o caso. A missiva que auferiu ao assassino a alcunha de Jack, o Estripador foi obra de um jornalista, segundo investigação da Scotland Yard na época. O autor da carta se passava pelo serial killer e fazia alusão aos crimes para incensar as manchetes de seu jornal, segundo documentos da investigação. Para azar da polícia, o apelido pegou.

Outra carta, esta de título From Hell (Do Inferno), é considerada uma das mais prováveis de ter sido enviada pelo próprio criminoso. Ela estava dentro de uma caixa que continha um rim. Supôs-se que o órgão pertencesse à terceira vítima, que teve um rim removido pelo assassino, mas a hipótese não foi confirmada.

Confira a tradução da carta:

Do inferno

Mr. Lusk,

Senhor

Eu envio um rim que peguei de uma mulher. O outro eu fritei e comi e estava bem gostoso. Posso lhe enviar a faca se você esperar mais um pouco.

Assinado

Prenda-me quando puder, Sr. Lusk

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Os suspeitos

Mais de 300 suspeitos foram investigados e cerca de 80, presos. A concentração dos assassinatos nos fins de semana, todos em ruas próximas, parecia indicar que o assassino trabalhava durante a semana e vivia na região. Essa é a aposta do especialista Donald Rumbelow, por exemplo, que acredita que Jack era um anônimo de Whitechapel.

Também se suspeitou que o criminoso fosse um médico, pois teria de possuir algum conhecimento cirúrgico para realizar a remoção de órgãos internos. Muitos acreditam, porém, que as extrações não tenham sido realizadas de forma tão acurada, por falta de tempo ou imperícia. Assim, ampliou-se o escopo das investigações. Já Marriott acredita que os órgãos não tenham sido removidos pelo assassino e aponta o marinheiro mercante alemão Carl Feigenbaum, cujo itinerário coincidia com as datas dos crimes, como principal suspeito.

Lista de suspeitos “genuínos” indicada pela Metropolitan Police:

– Kosminski, um pobre polonês de origem judaica que residia em Whitechapel;

– Montague John Fruitt, 31, advogado e professor que cometeu suicídio em dezembro de 1888;

– Michael Ostrog, ladrão russo dotado de diversos pseudônimos e preso e detido em asilos em várias ocasiões;

– Dr. Francis J. Tumblety, 56 anos, tido como um curandeiro americano que foi preso em novembro de 1888 por indecência e fugiu do país após pagar fiança altíssima.

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Exame de DNA em xale revela identidade de Jack, o Estripador

Uma análise de DNA pode ter revelado a verdadeira identidade de Jack, o Estripador.

Um xale achado em torno do corpo de Catherine Eddowes, uma das vítimas do criminoso, continha o DNA dela e do assassino e ajudou na retomada das investigações do caso por interesse de um “detetive de poltrona”.

A descoberta foi possível depois que o empresário Russel Edwards, 48, comprou o xale em um leilão e o colocou à disposição de Jari Louhelainen, um renomado especialista em análise de evidências genéticas de crimes antigos que atua na Interpol. Por meio de análises, Louhelainen  conseguiu confirmar a compatibilidade do DNA da vítima e do criminoso, segundo o diário britânico “Daily Mail”.

 

Investigação

O especialista fez análises fotográficas para estabelecer onde as manchas estavam no xale. Com uma câmera de infravermelho, Louhelainen conseguiu confirmar que as marcas escuras não eram apenas sangue, mas respingos de sangue arterial advindos de cortes, justamente a causa da morte de Catherine.

Outra descoberta em função do xale deixou a tão aguardada resposta ainda mais próxima. Com uma fotografia UV, um conjunto de manchas fluorescentes apareceu. Segundo o especialista, elas teriam características de esperma. “Eu nunca esperei encontrar evidências do próprio estripador, o que foi emocionante”, contou Edwards, o dono da peça. Na investigação, também foram encontradas evidências de partes de células de corpo humano no tecido. No ataque, um dos rins de Catherine foi removido pelo assassino.

Para retirar as evidências e poder analisá-las, o especialista usou um método chamado “aspiração”, que utiliza uma pipeta com um líquido especial de tamponamento, o qual remove o material genético do tecido sem danificá-lo.

Com a possibilidade de se realizar o exame, a tarefa do empresário Edwards passou a ser descobrir um descendente direto de Catherine. “Por sorte, uma mulher chamada Karen Miller –três vezes tataraneta da vítima– havia aparecido em um documentário sobre o estripador e concordou em oferecer uma amostra de seu DNA”, relembra. “Quando Louhelainen testou o DNA, ele formou um par perfeito com o de Karen”, que se animou com a descoberta, confirmando a autenticidade do xale. “Nada mais havia sido conectado cientificamente à cena de nenhum dos crimes”, pontua Edwards.

 

Identidade de Jack

Para investigar o esperma encontrado no tecido, o especialista pediu o auxílio de David Miler, outro renomado cientista forense. Juntos, eles conseguiram identificar células do criminoso no xale. Elas eram do epitélio, um tipo de tecido que reveste órgãos. A amostra teria vindo da uretra, durante a ejaculação.

O mesmo trabalho de investigação precisou ser feito na busca por um parente de Jack, o Estripador. Até hoje, acredita-se que ele tenha sido Aaron Kosminski, um cabeleireiro polonês, que tinha 23 anos na época. No início da década de 1880, ele e sua família se mudaram para Londres fugindo de um massacre russo em seu país natal. Kosminski tinha problemas mentais e, provavelmente, era um misógino, homem que odeia as mulheres. Após ser preso como um dos suspeitos –nunca houve prova suficiente para incriminá-lo–, ele passou o resto da vida internado em hospícios.

Edwards identificou uma descendente de uma irmã de Kosminski, Matilda. Ela aceitou dar uma amostra de seu DNA para a investigação. Segundo as análises de Louhelainen e Miler, o esperma encontrado no xale era, sim, de Kosminski, com o exame apontando 100% de certeza. “Agora que acabou, estou animado e orgulhoso pelo que conseguimos, e satisfeito que tenhamos estabelecido, o máximo que pudemos, que Aaron Kosminski é o culpado”, conta Louhelainen.

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Edwards, por sua vez, se diz satisfeito por ter conseguido respostas sete anos após a compra do xale. Com a certeza de quem era o estripador, o empresário já buscou informações de sua biografia. “Ele era uma criatura patética, um lunático que alcançou a satisfação sexual cortando mulheres da forma mais brutal. Ele morreu no hospício de Leavesden, de gangrena, aos 53 anos, pesando apenas 44 quilos”.

 

Detetive de poltrona

Até ver um filme que conta a história de Jack –“Do Inferno”, estrelado por Johnny Depp, de 2001–, o empresário se considerava mais um dos “detetives de poltrona” do caso. “Eu me juntei ao exército daqueles fascinados pelo mistério e pesquisar sobre o estripador virou um passatempo”. Depois de visitar museus e procurar todas as evidências ainda existentes sobre o crime, Edwards estava certo de que “havia algo em algum lugar que estava faltando”.

Em 2007, quando sentia que havia esgotado todas as possibilidades, ele viu em um jornal o anúncio da venda do xale ligado ao caso de Jack. Incrivelmente, a peça foi guardada por 126 anos sem nunca ter sido lavada.

O xale foi adquirido por Edwards em março daquele ano. Quando comprou a peça, não havia a certeza de que ela pertencia a Catherine. O antigo proprietário do xale, David Melville-Hayes, acreditava que o item estava com sua família desde o crime. Seu ancestral, o sargento Amos Simpson, perguntou a seus superiores se poderia levar o xale para casa e dá-lo à sua esposa, uma costureira.

O empresário queria, então, certificar-se de que a peça era original. “Eu, certamente, não tinha ideia de que esse frágil, incompleto e extremamente manchado xale levaria à solução do mais famoso mistério de assassinatos de todos os tempos: a identificação de Jack, o estripador”, escreveu Edwards ao “Daily Mail”. “Não há dúvida de que uma enorme quantidades de livros e filmes surgirão para especular a personalidade e a motivação de Kosminski. Eu não tenho vontade de fazer isso. Eu quis proporcionar respostas verdadeiras usando evidência científica, e estou impressionado de que, 126 anos depois, eu resolvi o mistério”.

 

Jack, o Estripador: Caso Encerrado

Andrew Cook, um historiador britânico diz que na verdade tudo não passou de uma invenção para vender mais jornais. No livro “Jack, o Estripador: Caso Encerrado” Cook afirma que Jack é um personagem de ficção inventado pelos jornalistas e que os crimes de 1888, foram obra de diferentes homens, sem nenhuma ligação entre eles. O foco principal do livro é o jornal “The Star”, lançado pouco antes de os assassinatos começarem e que foi o primeiro a sugerir um “serial killer”. Coincidência ou não, o “Star” viu sua circulação aumentar em 232 mil exemplares durante o período em que noticiou à exaustão os crimes atribuídos a Jack.