Sobre o assunto, diversos livros foram escritos, documentários foram feitos, websites foram criados. Quase trinta anos depois, em alguns dos assassinatos ligados a ele, investigações ainda estão sendo feitas. É um dos maiores mistérios da história dos crimes americanos.
Os assassinatos
Alguns escritores chegaram a sugerir que o Zodíaco poderia estar ligado a Charles Manson ou a Unabomber, outros dois casos famosos americanos, mas nunca se chegou a uma conclusão definitiva.
Em 30 de outubro de 1966, Cheri Jo Bates, 18 anos, decidiu ir até a biblioteca da Riverside City College, Califórnia, estudar. Um pouco depois das 16h30, deixou um bilhete para o pai, pregado na geladeira, dizendo onde estaria.
Às 17h, Joseph Bates, pai de Cheri Jo, chegou em casa e não viu o carro da filha, um fusca. Entrou na residência, encontrou o bilhete e não se preocupou mais.
Cheri Jo permaneceu na biblioteca por horas. Enquanto estudava, alguém abriu o capô de seu carro e retirou a bobina do distribuidor e condensador. O distribuidor foi desconectado. Às 21h, a garota decidiu que já era hora de voltar para casa. Quando tentou ligar seu carro… Nada. Tentou mais uma vez… Nada. Já de noite, sem ter a quem recorrer, não sabia o que fazer, quando um gentil homem lhe ofereceu carona até a sua residência. Ela aceitou. Caminhavam em direção ao automóvel do homem quando ele de repente a agarrou, tapou sua boca e colocou uma faca em sua garganta. Desesperada, a menina tentava gritar e fugir, atacando seu agressor como podia, arranhando seu rosto.
Nos depoimentos posteriores, a polícia saberia que dois gritos horrendos foram ouvidos: o primeiro às 22h15, o segundo às 22h45. Não se sabe o que aconteceu nesse intervalo de tempo, mas o resultado foi que o criminoso cortou a jugular de Cheri Jo e deu outras três facadas em sua garganta, aniquilando suas cordas vocais. A menina foi praticamente decapitada, depois de esfaqueada 42 vezes, mas o assassino ainda não estava satisfeito. Deitou-a no chão e deixou sua lâmina enterrada no ombro da vítima. No ataque perdeu seu relógio Timex, que marcava 12h23. A origem do relógio foi rastreada até um posto militar, na Inglaterra.
Dias depois, a polícia recebeu uma carta de confissão anônima, escrita a máquina. Não conseguiram identificar quem a teria escrito.
Seis meses depois, o Riverside Press Enterprise publicou um artigo sobre o caso. No dia seguinte à publicação, a polícia, Joseph Bates e o jornal receberam novas cartas do suposto assassino.
Anos depois se faria a correlação desse caso com os do criminoso que chamou a si mesmo de Zodíaco, quando a polícia de Riverside notou similaridades com o caso de assassinato em Napa, acontecido posteriormente. Até os dias de hoje existem dúvidas sobre a autoria do assassinato, muitos não acreditam que tenha sido o Zodíaco.
Em 20 de dezembro de 1968, mais de dois anos já haviam passado desde o assassinato de Cheri Jo Bates. Nunca ninguém mais ouvira falar do caso.
Nessa noite de lua cheia, David Arthur Faraday, 17 anos, estudante do Vallejo High School, marcou um encontro com Betty Lou Jensen, 16 anos, estudante do Hogan High School. David pegou Betty em casa às 20h20, disseram aos pais dela que iriam a um concerto e prometeram voltar até as 23h. Em vez do concerto, foram de carro para um local chamado Lover’s Lane, conhecido ponto de namoro da região, nas proximidades do lago Herman.
Semanas antes, Betty tinha tido a sensação de que estava sendo seguida e observada por alguém na escola. Por mais de uma vez, sua mãe encontrou aberto o portão do jardim que dava para a janela da menina. Estranho, mas nada que alarmasse demais a família.
Os namorados, ao chegarem ao Lover’s Lane, travaram as portas e reclinaram os bancos. Um passante viu os dois adolescentes ali, enquanto Betty Lou recostava sua cabeça no ombro de David. Segundo essa testemunha, estava bastante escuro, apesar da lua cheia. Outras duas testemunhas, caçadores de racum, diriam ter visto o que pareceu ser uma Valiant azul seguindo o carro de David.
Perto das 23h, quando o casal já se preparava para ir embora, outro carro apareceu no local e estacionou perto deles. Um homem corpulento desceu e chegou a ser visto por outro motorista que passava por ali. Parou ao lado da janela de Betty Lou e ordenou que o casal saísse do veiculo. Mas, como estavam com as portas travadas, se negaram achando que estavam seguros. Diante da recusa, o desconhecido sacou uma arma da jaqueta, foi até a janela de trás e atirou no vidro, que explodiu. Rodeou o carro até a outra janela traseira e também a estourou.
Betty Lou, apavorada, abriu a porta e começou a descer. David não teve tempo para isso. Antes que pudesse sair, o estranho encostou a arma atrás de seu ouvido esquerdo e atirou. A bala atravessou a cabeça de David horizontalmente, arrancando parte dela.
Gritando, fora de controle, Betty Lou saiu correndo. O homem seguiu em seu encalço, atirando cinco vezes nas suas costas. Ela tombou a nove metros do carro em que estava.
David continuava vivo e sangrando em profusão. O assassino virou-lhe as costas, entrou em seu carro e foi embora.
Minutos depois, Stella Borges, uma senhora que passava por ali de carro, chamou a rádio patrulha. Betty Lou já estava morta, mas David chegou ainda com vida à Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Geral de Vallejo, apesar de não ter resistido aos ferimentos e falecido logo depois.
Os projéteis que mataram Betty Lou e David saíram de pistola semiautomática calibre .22.
Darlene Ferrin conhecia tanto David como Betty Lou. Tinha 22 anos, era casada e mãe de uma menininha, Dena. Karen, a babá que Darlene contratava com certa freqüência, notou em 27 de fevereiro de 1969 quando um carro branco estacionou do lado de fora da casa. Ela comentou o fato com Darlene, que pareceu não dar maior importância a ele e continuou a se arrumar para sair. Karen descreveria depois o homem sentado ao volante: grande, cara redonda e cabelo castanho cacheado. Darlene chegou a comentar com a babá que “ele devia estar observando-a novamente.” Disse que, pelo que sabia, “ele” estava fora do Estado e não queria que ninguém soubesse do assassinato que ela testemunhou. Darlene chegou a dizer o nome do homem, algo como Peter ou Paul, mas Karen não deu atenção.
Algum tempo antes, pacotes haviam sido enviados à casa de Darlene. Pam Huckaby, sua irmã, ao receber um dos pacotes, reconheceu o entregador como “aquele homem que ficava sentado em seu carro branco, em frente a casa de Darlene.” O homem, que usava óculos, avisou-a para não abrir o pacote. Na época, especulou-se se que os pacotes estavam sendo enviados pelo ex-marido de Pam, Jim, que vivia no México e possuía uma arma calibre .22.
Darlene chegou a avisar as amigas para que não chegassem perto do homem do carro branco que ficava estacionado em frente à sua casa. Obviamente, ela não gostava da situação, mas não tinha coragem de pedir que ele saísse dali.
Em 4 de julho daquele ano, Darlene saiu de casa para ir buscar seu amigo Michael Mageau, 19 anos. Os dois tinham combinado de ir ao cinema em San Francisco. Perceberam que estavam sendo seguidos e, assustada, a moça começou a dirigir cada vez mais rápido, tentando pegar estradas vicinais para despistar seu perseguidor. De repente, estavam na Columbus Parkway, na mesma direção da estrada do lago Herman.
Darlene parecia conhecer quem a perseguia. Sem aviso, o carro atrás do casal diminuiu a velocidade e sumiu, mas o alívio durou pouco… Cinco minutos depois foram abalroados horizontalmente e ficaram impossibilitados de fugir. As luzes do outro carro cegavam os dois, mas mesmo assim Mageau pode ver que um homem carregando uma lanterna vinha na direção dos dois. A janela do seu lado estava aberta e ele ouviu tiros serem disparados. Sentiu um calor estranho tomar conta de todo seu corpo e se deu conta de que a vítima era ele. Perplexo, ainda ouvindo disparos, viu Darlene tombar sobre o volante. Ela havia sido alvejada cinco vezes, além de ter sido atingida por alguns projéteis que saíram do corpo de Mageau.
Enquanto o assassino voltava para seu carro, Mageau pode ver seu rosto, mas ao ouvir seus gritos de dor o homem voltou e atirou mais duas vezes.
Dessa vez, apesar da dor insuportável, Mageau fingiu-se de morto. Percebeu que não conseguia mais gritar pois uma das balas atingira sua mandíbula e perfurara sua língua. Darlene ainda gemia no banco da frente quando ele, com muita dificuldade, conseguiu descer do veículo para tentar encontrar socorro. Para sua sorte, três adolescentes que procuravam um amigo notaram o automóvel estacionado no meio da estrada e viram a vítima caída no chão. Sem hesitar, desceram para socorrê-lo. Quando se deram de que a situação era grave, foram até uma casa próxima e avisaram a polícia.
O policial Richard Hoffman e o sargento Conway já estavam no local quando a ambulância chegou. Darlene foi pronunciada morta às 00h38. À 00h40, o Departamento de Polícia de Vallejo recebeu uma ligação telefônica. Uma voz calma, do outro lado da linha, reportou o duplo homicídio, deu a localização dos corpos e a descrição do carro de Darlene Ferrin. Disse ainda que ambas as vítimas tinham sido alvejadas com uma Luger 9mm, identificando a arma com precisão e alegou ser a mesma arma que havia matado Faraday e Jensen no ano anterior. Com um tom de voz mais profundo, disse adeus e desligou. Para desespero da polícia, descobriu-se que a ligação fora feita de um telefone público que ficava do lado de fora do escritório do xerife de Vallejo.
Michael Mageau foi operado e sobreviveu. Depois de curado, deu tantas versões do ocorrido para a polícia e escondeu-se com tanta rapidez que a única conclusão possível é que estava apavorado demais com a possibilidade do assassino voltar e tirar sua vida. Descreveu o carro de seu agressor como sendo marrom, provavelmente um Corvair.
Em 27 de setembro de 1969 Cecília Shepard e Bryan Hartnell combinaram um programa juntos. Eram amigos havia muito tempo e planejaram um piquenique nas margens do lago Berryessa. Estavam conversando e comendo quando um carro parou ao lado do Karmann-Ghia de Bryan e seu ocupante começou a observar o casal.
Cecília notou o estranho, mas ele logo desapareceu entre as árvores. Momentos depois, ela tornou a vê-lo. De novo, ele sumiu. Quando apareceu outra vez, vestia um capuz preto em forma de saco sobre a cabeça, como se fosse um executor. A frente do capuz pendia até a cintura, e no peito estava desenhado um símbolo do zodíaco. Ele usava óculos escuros sobre o capuz, e do lado direito de sua cintura pendia um facão de pelo menos 30 centímetros de comprimento. Do lado esquerdo, o coldre estava vazio. Ela ergueu os olhos e percebeu uma arma em sua mão.
O homem falou para Bryan que era um condenado fugitivo e exigiu dinheiro e as chaves do carro. Foi atendido de imediato. Ele então deu uma corda a Cecília para que ela amarrasse Bryan, o que foi feito com nós bem largos, para que talvez ele tentasse escapar, mas o criminoso percebeu e resolveu ele mesmo amarrar Cecília e apertar os nós que continham Bryan. Ameaçou o casal, dizendo que teria de esfaqueá-los. Bryan disse ao criminoso que não suportaria ver Cecília ser esfaqueada, que preferia ser a primeira vítima. O assassino respondeu que era justamente o que pretendia fazer e, apesar das súplicas desesperadas do rapaz, ajoelhou-se e o esfaqueou seis vezes nas costas. Enquanto ele gemia com uma dor lacinante, o estranho esfaqueou Cecília dez vezes, cinco nas costas e cinco na frente, atingindo seu seio, seu abdome, sua virilha.
Ao ir embora o criminoso fez questão de por as chaves do carro de Bryan e o dinheiro em cima da toalha de piquenique, deixando claro que não se tratava de um assalto e sim de uma execução. Antes de sair de cena, ainda deu uma paradinha no Karmann-Ghia e, com uma caneta hidrográfica, escreveu na porta:
“Vallejo
12-10-68
7-4-69
Sept 27-69-6:30
by knife.”
Assim que o criminoso partiu, as vítimas começaram a gritar. A moça conseguiu desamarrar-se e libertou o amigo. Da praia, um pescador chinês ouviu os gritos e chamou a polícia, que encontrou Bryan distante 270 metros da estrada. Ele perdia sangue sem parar, mas mesmo muito ferido indicou onde estava Cecília.
Às 19h13 foi reportado ao escritório do xerife de Napa o duplo esfaqueamento. Às 19h40, um homem não identificado telefonou para o departamento de polícia e reportou o que seria um duplo homicídio, informando a localização dos corpos. Ao ser perguntado sobre sua identidade, respondeu:
- Eu sou aquele que fez isso!
Cecília Shepard morreu em 28 de setembro, devido aos diversos ferimentos a faca. Bryan Hartnell sobreviveu. Hoje em dia, é advogado no sul da Califórnia.
A polícia descobriu uma pegada perto do carro de Bryan. O tamanho era 10 ½, o equivalente ao nº 41. O tipo de sola do calçado parecia ser o equivalente a uma bota do tipo “Wing Walker”, de uso exclusivo de militares.
No dia 11 de outubro de 1969, o motorista de táxi Paul Lee Stine não estava ainda nem perto de encerrar seu dia de trabalho quando atendeu ao homem que entrou em seu táxi e seguiu viagem até o endereço solicitado. Ao parar o táxi no local indicado, alguém passeava com seu cachorro em frente ao veículo. O silencioso passageiro então mudou de ideia e pediu ao motorista que andasse mais um quarteirão. Assim que estacionou, Paul Stine foi agarrado por trás, com o braço esquerdo de seu passageiro envolvendo com força sua garganta. Sentiu o cano de uma arma no ouvido direito, e começou a lutar pela vida. Não teve tempo nem de pensar sobre o que estava acontecendo: o tiro que estourou seus miolos. A arma utilizada foi uma semiautomática 9mm.
O passageiro saiu do táxi, abriu a porta da frente e sentou-se no banco vazio ao lado de Stine. Pegou a carteira do motorista, cortou um pedaço da camiseta ensanguentada e com ela limpou toda e qualquer digital que pudesse ter deixado ali, levando um pedaço da roupa de sua vítima com ele. O sangue de Stine estava espalhado por toda parte. Sem se impressionar, o criminoso saiu do veículo e desceu a rua a pé, sem se dar conta de que havia sido visto por uma garota de 14 anos que estava numa janela do outro lado da rua.
Às 21h58 a polícia foi chamada pelo pessoal da casa em que a testemunha estava. Não tinham escutado nenhum tiro, mas a cena assistida por ela foi suficiente. O homem que fez a ligação disse que o suspeito que saíra do táxi era um homem negro adulto, mas sua visão fora prejudicada pela pouca luminosidade daquele trecho da rua.
Os policiais se dirigiram para o local. Ao pedirem informações para um senhor que passava por ali, ele relatou ter visto um homem carregando uma arma, correndo em direção ao leste de Washington. A polícia saiu correndo atrás da pista, sem perceber que, provavelmente, o gentil informante era o criminoso que procuravam. Paul Lee Stine foi declarado morto às 22h30.
No dia 22 de março de 1970, noite de lua cheia, Kathleen Johns e seu bebê de 10 meses de idade estavam na Estrada 132, indo para a cidade de Petaluma, Califórnia. O gentil motorista de uma Station Wagon Chevrolet 1957 cor marrom e branca, ao ultrapassá-la, fez sinal de que o pneu estava com problemas. Kathleen deu seta e parou no acostamento. O homem parou para ajudá-la, “graças a Deus.”
Verificou o pneu, pareceu arrumá-lo e os dois veículos seguiram viagem. Minutos depois o pneu do carro da jovem mãe literalmente voou para fora, fazendo-a parar de forma abrupta. O motorista do Chevrolet parou também, oferecendo carona para a senhora e seu bebê. Sem alternativa, Kathleen aceitou.
Depois de alguns quilômetros do que parecia ser uma viagem tranquila, o estranho, sem aviso prévio, pegou uma estrada deserta. Avisou à mulher que mataria ela e seu bebê. Com o veículo em movimento, arrancou a criança do colo da mãe e tentou arremessá-la para fora. A luta pela vida começou e ao mesmo tempo que tentava salvar seu bebê e a si mesma, Kathleen observava todos os detalhes que poderiam vir a ser úteis, caso escapasse daquele inferno. O homem era bem arrumado, calçava botas militares bem engraxadas e vestia uma capa de náilon azul e preta. Usava também uma calça de lã preta boca-de-sino, como era moda, além de óculos de armação fina e preta, do tipo tartaruga, presa por um elástico por trás da cabeça. O cabelo dele era castanho e cortado em estilo “escovinha”, com uma risca bem marcada. Seu nariz era médio e seu queixo marcado, tinha compleição física média e pesava algo entre 75 e 80 quilos.
De repente, o carro deu um solavanco e diminuiu de velocidade. Era a chance que Kathleen estava esperando, pulou para fora do carro com seu bebê nos braços. Correndo, atravessou uma vinicultura como pode, tropeçando, sem ar e sem emitir som algum. O agressor a seguiu com uma lanterna na mão, mas não conseguiu alcançá-la. Por sorte, um caminhão parou na estrada e o motorista desceu para ver o que estava acontecendo. Ao deparar-se com a desesperada mulher tentou socorrê-la, mas, por mais que insistisse para que entrasse em seu veículo, ela não saía do lugar. O homem que perseguia Kathleen entrou em seu carro e partiu em alta velocidade. O motorista do caminhão, penalizado com a situação da moça, esperou pacientemente até que um veículo com uma mulher na direção parasse ali e prestasse socorro. Ela levou Kathleen até a delegacia mais próxima.
Para os policiais, Kathleen contou sua história em detalhes. Pendurado atrás do policial que tomava seu depoimento estava o retrato falado do homem que tinha assassinado o taxista Paul Stine, no ano anterior. Quando viu o desenho, a jovem mãe começou a gritar em total descontrole. Era o mesmo homem que a atacara na estrada! O retrato falado era do assassino agora chamado Zodíaco.
A polícia viu ali uma grande oportunidade de encontrar novas pistas. Acompanhou a moça até seu carro na intenção de encontrarem digitais, mas ao chegarem ao local, viram que o veículo fora queimado por dentro.
Nunca ficou provado que Kathleen foi raptada pelo Zodíaco, apesar de ele fazer referência ao caso e assumir a responsabilidade sobre ele em uma de suas cartas.
As cartas
Durante os anos em que agiu, o Zodíaco manteve contato, através de 21 cartas e postais, com o Departamento de Polícia de Riverside, Joseph Bates (pai de Cheri Jo), com os jornais Riverside Press-Enterprise, San Francisco Chronicle (que parecia ser seu preferido), San Francisco Examiner, Vallejo Times-Herald e Los Angeles Times, com o advogado Melvin Belli e o editor Paul Avery. Suas cartas sempre tinham um tom de zombaria e provocação.
Sabe-se que se tratava de um homem inteligente e brilhante. Seu prazer era observar as investigações andarem em círculos, sem nunca chegar a lugar nenhum.
Suas cartas eram verdadeiras obras de arte. Usava símbolos e códigos criptografados e sua escrita era precisa e descritiva. Era comum iniciá-las escrevendo com letra cursiva, que sempre variava o estilo, provavelmente copiadas de outros tipos de caligrafia.
Em algumas de suas cartas, parecia ser uma pessoa com pouca instrução, cometendo erros gramaticais e ortográficos infantis. Isso contradizia os sofisticadíssimos códigos e símbolos que utilizava e que se referiam à astrologia e aos signos e por isso foi chamado de Zodíaco.
A primeira carta recebida pelo jornal San Francisco Chronicle estava duplamente selada para que chegasse mais rápido, o que depois se constataria ser um hábito do Zodíaco. Tratava-se de um criptograma impresso, composto de símbolos, e estava endereçada ao editor, reclamando a responsabilidade sobre os assassinatos de David Faraday, Betty Lou Jensen e Darlene Ferrin. Na carta, constavam alguns detalhes do crime que só o assassino poderia saber.
Assassinato de Betty Lou e David: 10 tiros detonados, corpo do garoto atrás do carro, garota caída do lado direito, pés apontados para oeste.
Assassinato de 4 de julho: garota vestindo calça comprida, garoto também foi atingido no joelho.
O assassino assinou a carta com um círculo cruzado, como aquele desenhado na roupa do atacante de Cecília e Bryan.
O criptograma tinha sido postado em julho de 1969, e o Zodíaco afirmava que sua identidade estava ali, para quem o desvendasse. Ordenou que sua carta fosse publicada na edição de 1º de agosto de 1969, caso contrário faria uma matança de grande proporção. O jornal concordou e publicou.
Um professor da cidade de Salinas, Harden, trabalhou em conjunto com a esposa por vários dias, tentando decifrar o criptograma. Ele era criptógrafo amador e disse ter decifrado o código. O nome do assassino não estava ali. O texto dizia: “Eu gosto de matar pessoas porque é muito divertido…”
Para construir o criptograma, o Zodíaco utilizava dois livros fáceis de serem encontrados em qualquer biblioteca: Codes and Ciphers, de John Laffin, e o Zodiac Alphabet.
A polícia então exigiu que o suposto assassino desse detalhes dos crimes somente conhecidos por ele, pois não queria perder tempo com um louco que estivesse fazendo se passar pelo Zodíaco. A resposta veio numa carta de três páginas, que começava assim: “Prezado Editor, aqui é o Zodíaco falando…” Era a primeira vez que ele próprio se chamava pelo apelido, que permanece até hoje. O homem deu detalhes que eram desconhecidos do público em geral.
Em 14 de outubro de 1969, o Zodíaco enviou sua quinta carta, postada em San Francisco. No remetente estava desenhado o círculo cruzado. Nessa, ameaçava explodir um ônibus escolar com uma bomba química, além de conter um retalho de roupa, que logo foi identificado como sendo da camisa do taxista Paul Stine. Se a sua intenção era amedrontar a população, conseguiu.
A polícia ainda tentou usar ninhydrina, um pó utilizado para detectar a presença de vários aminoácidos, permitindo a definição de impressões digitais, mas nada foi encontrado. Nenhuma impressão digital, suor ou aminoácido. Nada. As cartas foram levadas para especialistas, na tentativa de conseguir alguma pista.
Em 22 de outubro de 1969, o Departamento de Polícia de Oakland recebeu uma ligação telefônica anônima. Nela, uma voz de homem se identificou como o Zodíaco e exigiu que fosse conseguido um contato telefônico entre ele e F. Lee Bailey ou Melvin Belli, renomado advogado. Ele queria ser ouvido no programa de entrevistas, o que conseguiu. Em duas horas, Belli estava aguardando ao vivo a conversa com o criminoso, que aconteceu às 19h20. Ao todo, foram feitas 35 ligações. Nelas, ouviu-o reclamar de fortes dores de cabeça, que passavam quando ele matava. Disse que não queria ir para a câmara de gás. Belli tentou, com toda habilidade, convencer a “voz” a se entregar. Marcou um encontro fora do ar, mas ele nunca apareceu.
Em novembro de 1969, o jornal Chronicle recebeu mais cartas do Zodíaco. Eram legítimas, todas continham pedaços da camisa de Paul Stine. Nessas, ele afirmava ter assassinado mais duas pessoas, perfazendo um total de sete vítimas.
Numa dessas cartas, o Zodíaco explicou por que a polícia nunca o encontraria:
“Ele se parecia com a descrição das vítimas apenas quando matava, o restante do tempo tinha uma aparência completamente diferente.”
Não deixava impressões digitais na cena do crime, usava protetores transparentes nos dedos e todas as suas armas haviam sido compradas pelo correio.
A carta seguinte foi endereçada a Melvin Belli, também contendo um pedaço da camisa ensanguentada de Paul Stine. Ele desejava ao advogado um feliz Natal e pedia sua ajuda, porque estava muito próximo do descontrole. Logo faria sua nona e décima vítimas.
Dessa vez, a polícia teve uma pista de que o Zodíaco poderia ter ascendência inglesa, já suspeitava que se tratasse de um marinheiro inglês. Ele usou as expressões “The Kiddies” e “Happy Christmas”, comuns na Inglaterra, mas não nos EUA, onde seriam usadas as expressões “Kiddo” para garotos e “Merry Christmas” para Feliz Natal.
Em 30 de janeiro de 1974, depois de três anos de silencio absoluto, um jornal de San Francisco recebeu uma autêntica carta do Zodíaco. Nela, estava anotado “Me-37, SFPD-0″, que se concluiu tratar-se de uma contagem ou de um placar: “37 para mim, 0 para o Departamento de Polícia de San Francisco.” Um policial levou a contagem de 37 vítimas a sério e encaminhou-a ao xerife Striepke. Ele pegou os 40 casos de assassinatos não resolvidos em quatro estados do oeste americano, marcando sua localização no mapa. Surpresa! Os alfinetes formavam uma letra “Z” de tamanho gigante. A teoria de Striepke caiu por terra quando o assassino serial Theodore Bundy foi preso e assumiu muitos desses crimes.
Como em algumas cartas o Zodíaco mostrou ser fã do filme O Exorcista, que considerava uma comédia, muitos acreditaram que ele pertencesse a alguma seita satânica, mas nenhuma prova concreta foi encontrada.
Hoje em dia, existem sérias dúvidas quanto à autoria do Zodíaco no assassinato de Cheri Jo Bates. O principal suspeito agora é um colega de faculdade da moça e existem várias provas circunstanciais contra ele.
Alguns suspeitos
Quando a investigação do Zodíaco começou, a polícia tinha 2.500 suspeitos. A investigação foi reduzindo este número. Aqui estão alguns exemplos:
Arthur Leigh Allen
O principal suspeito.
Foi o suspeito número um da polícia e o preferido de muitos. A primeira vez que tomaram conhecimento dele foi em 1971, quando seus amigos e família contaram sobre seu comportamento irregular. Todos que o conheciam achavam que ele poderia ser o Zodíaco.
Estas eram as características que ligavam Allen ao histórico de crimes do Zodíaco:
– Foi criado em Vallejo, Califórnia.
– Em 1956, alistou-se na marinha americana. Sempre se supôs que o Zodíaco tivesse alguma filiação militar, provavelmente na marinha.
– Durante os anos de 1969 e 1970, estava empregado parte do dia como zelador na Elmer Cave Elementary School, em Vallejo. Foi nessa época que o Zodíaco escreveu cartas ameaçando crianças de uma escola.
– Entre 1970 e 1974, ocupava-se em estudar ciências biológicas no Sonoma State College, tendo química como matéria secundária. Durante a permanência de Allen em Sonoma, cidade localizada no oeste da Califórnia, aparentemente os assassinatos do Zodíaco cessaram, mas iniciaram-se os chamados “Assassinatos de Colegiais de Sonoma.” De acordo com o já aposentado agente especial Jim Silver, do Departamento de Justiça da Califórnia, quando a polícia mapeou o último local onde as vítimas foram vistas e o local onde seus corpos foram encontrados, o trailer de Allen ficava no centro.
Era comum Allen usar frases como “o mais perigoso jogo” e “homem como o verdadeiro jogo”, usadas nas cartas do Zodíaco.
De acordo com seu irmão Ron, Allen ganhou de sua mãe, no Natal de 1967, um relógio com um símbolo do zodíaco, um círculo cruzado. Pouco tempo depois de ganhar o presente, fez as seguintes declarações a um amigo cuja identidade foi protegida:
“Ele gostaria de matar casais ao acaso. Iria provocar a polícia com cartas detalhando seus crimes. Assinaria essas cartas com o mesmo círculo cruzado desenhado em seu relógio, chamaria a si mesmo de Zodíaco. Usaria maquiagem para mudar a aparência quando matasse, amarraria uma lanterna ao cano de sua arma para poder atirar no escuro. Enganaria mulheres, fazendo-as parar seus carros em áreas rurais ao pensar que tinham problemas com os pneus.”
Em novembro de 1969, sua cunhada o viu com um papel na mão que parecia uma carta. Nela, apareciam símbolos e linhas, similares aos códigos usados pelo criminoso. Ele alegou que era o trabalho de um louco, que mostraria a ela, mas não o fez. A mesma cunhada também encontrou uma faca ensanguentada no banco da frente do carro dele, que justificou o fato dizendo que tinha matado galinhas com ela. Isso aconteceu na mesma época do ataque no lago Berryessa. A polícia foi chamada em 1971 e o trailer de Allen, vasculhado. No freezer foram encontrados corpos mutilados de roedores, corações e fígados de esquilos e outros animais pequenos, mas ser esquisito não é crime.
As impressões digitais de Allen foram tiradas, assim como exemplos de sua caligrafia. Elas não combinavam com alguma das encontradas no táxi de Stine e a caligrafia mostrou similaridades com a do Zodíaco, principalmente no modo como se inclinava para o lado direito da página.
Allen viveu com sua mãe em Vallejo, mas a polícia não conseguiu um mandado de busca para a casa dela. Depois também se soube que Allen mantinha dois trailers, mas somente um foi verificado.
Vários fatos o ligavam ao caso do Zodíaco:
– Sua descrição física era similar ao retrato falado
– Havia estado em Riverside City College em 1966, quando Cheri Jo foi morta
– Sofria de terríveis dores de cabeça
– Era ambidestro
– Tinha sido estudante de química
Em 1973, médicos atestaram que Allen possuía cinco diferentes personalidades. Também atestaram que ele poderia ser violento, perigoso e capaz de matar.
Foi preso por molestar crianças e na cadeia espalhou para todos que era o Zodíaco. Depois, mudou de ideia e de história, dizendo aos companheiros de cela que rezava para o Zodíaco matar mais uma vez, pois assim ficaria livre da suspeita. O Zodíaco não apareceu até que ele fosse solto.
Assim como o Zodíaco, Allen selava duplamente suas cartas e estava nos locais de todos os crimes atribuídos a ele.
O estudo de seu perfil mostrou que ele odiava a mãe e sempre se sentiu inferior ao pai, um militar de sucesso. Sofria de alcoolismo e depressão, situações sempre agravadas nas duas datas mais estressantes para ele: seu aniversário (18 de dezembro) e o Natal.
Na época do assassinato de Darlene, um amigo de Allen estava vendendo um Corvair marrom, carro descrito por Mageau como sendo de seu agressor. Allen, com frequência, dirigia esse carro. Também morava bem perto de onde a moça trabalhava como garçonete. Ela tinha um conhecido que chamava de “Lee”, o mesmo nome como Allen era chamado, pois é assim que se pronuncia seu nome do meio.
Logo depois de Paul Stine ser assassinado, o amigo de Allen, Ralph Spinelli, procurou o Departamento de Polícia de Vallejo para comunicar que dias antes, Allen tinha admitido, em conversa, ser o Zodíaco e provaria isso para Ralph indo até San Francisco e matando um motorista de táxi.
Numa carta enviada aos jornais, o Zodíaco desenhou o diagrama de uma bomba. Os ingredientes a serem utilizados em sua confecção eram: nitrato de amônia, fertilizante e cascalho. O Zodíaco também dizia ter esses itens em estoque no porão de sua casa e que haviam sido comprados por meio de ordem postal. Ao fazerem a busca na casa de Allen em 1991, os policiais de Vallejo encontraram, no porão, diagramas desenhados de bombas que incluíam o uso de nitrato de amônia, fertilizante e cascalho. Também foram encontrados catálogos para compra pelo correio de bombas, armas e armadilhas.
Em 1991, Michael Mageau identificou Arthur Leigh Allen como seu agressor. Fez essa identificação entre várias fotos mostradas a ele pelo policial George Bawart, do Departamento de Polícia de Vallejo. Quando Bawart perguntou a Mageau por que ele nunca tinha identificado Allen em vinte anos de investigação, Mageau respondeu que nunca foram mostradas a ele fotos de suspeitos, somente lhe perguntaram se reconhecia certos nomes.
Allen morreu em 26 de agosto de 1992, de complicações causadas por diabetes e problemas no coração.
Lawrence Krew/Kane
Numa conversa com uma funcionária de um cassino num restaurante, Krew alegou ser um especialista no zodíaco (astrologia) e ofereceu-se para fazer seu mapa astral. Naquela noite, levou à casa dela o mapa pronto. Ele era de touro, ela, de capricórnio, uma compatibilidade perfeita.
Tinha a idade aproximada de 38 anos, media 1,80 metro de altura e usava óculos com armação de tartaruga. Disse morar em Stateline, num apartamento estúdio.
Quando saíram outra vez, a moça levou uma amiga com ela. O homem falou sobre o Zodíaco durante quatro horas, além de eleger assuntos interessantes como morte e assassinato. Contou a elas que morreria “na água”. Quando as moças começaram a fazer perguntas, ele se fechou e foi embora.
Um relato semelhante ao da funcionária do cassino foi dado a polícia por outra mulher, que os procurou bastante assustada.
O detetive Harvey Hines, que investigou o Zodíaco por vinte anos, foi chamado para investigar o desaparecimento de Donna Lass, e logo notou algo de errado. Seguiu para South Lake Tahoe, a fim de acompanhar o caso de perto. Hines perguntou sobre Donna aos seus amigos e descobriu que ela trabalhava de enfermeira num hotel cassino da região.
Quando questionou suas colegas de trabalho, descobriu que havia um tal de Larry Krew interessado nela. Ele tinha por volta de 40 anos, cabelo cortado bem curto e uma respeitável barriga. Media 1,80 metro e pesava por volta de 80 quilos, além de usar óculos com armação de tartaruga. Tinha sido descrito às amigas por Donna como solitário, quieto e arrepiante. Tinha um escritório em frente ao Sahara Hotel e morava com a mãe num apartamento estúdio em Stateline. Foi visto várias vezes conversando com a moça na enfermaria do cassino. Conhecia tudo sobre o Zodíaco.
A enfermeira foi vista pela última vez em 6 de setembro de 1970, mais ou menos à 1h, quando deixou seu plantão. No dia seguinte, um homem desconhecido telefonou para o emprego e condomínio dela, dizendo que ela não voltaria devido a uma emergência familiar. A ligação era falsa, e Donna Lass nunca mais foi vista.
Krew nasceu no início dos anos 20 e se mudou se para a Califórnia em 1953. Era do signo de touro. Serviu na Reserva naval por sete meses, de onde foi desligado com diagnóstico de histeria psiconeurótica.
Hines passou a investigar Krew como suspeito de ser o Zodíaco. Descobriu que seu suspeito tinha vários pseudônimos, três cartões de seguro social sob nomes diferentes e duas datas de nascimento, além de duas carteiras de motorista.
Em 1962, sofreu uma grave colisão com um caminhão de cimento, machucando a cabeça. Foi diagnosticado uma lesão cerebral, mas apesar de considerada lesão grave, nunca ficou internado em uma instituição mental.
Entre 1964 e 1968, foi preso 19 vezes por roubo e fraude. As mais recentes acusações eram por rondar pessoas. Depois de se divorciar da mulher, mudou-se de volta para a casa da mãe.
Alguns documentos da marinha sugerem que ele seria homossexual. Hines descobriu que Krew trabalhara para uma empresa em Riverside na mesma época do assassinato de Cheri Jo Bates. Quando morou em San Francisco, sua casa ficava localizada na rua Eddy, dois quarteirões depois de onde Paul Stine pegou o Zodíaco em seu táxi.
A peça teatral de Gilbert e Sullivan, The Mikado, estava sendo encenada três quadras distante de seu apartamento e o Zodíaco tinha escrito que era fã dessa dupla.
Krew comprou um carro modelo sedan Ambassador em 10 de julho de 1969, apenas seis dias depois do assassinato de Darlene Ferrin. O homem que raptou Kathleen Johns e sua filha em 1970 guiava o mesmo modelo de carro.
Depois de matar Stine, o Zodíaco aparentemente escapou em direção do Letterman General Hospital. Na mesma época, Donna Lass trabalhava como enfermeira nesse hospital. Em junho de 1970, Donna mudou-se de San Francisco para South Lake Tahoe, Nevada, empregando-se no Sahara Tahoe Hotel Cassino. Em junho de 1970, Krew também se mudou para a mesma cidade e foi trabalhar no mesmo edifício que Donna.
Certo de que Krew era o Zodíaco, Hines começou os procedimentos de identificação.
Conversou com as duas irmãs de Darlene Ferrin, que escolheram a foto de Krew entre muitas outras, apontando-o como o homem que seguia sua irmã. Depois pediu ao policial Foukes, que tinha falado com o Zodíaco logo após o assassinato de Stine para pedir informações, para identificar o homem entre as várias fotografias. Sem hesitar, ele pegou a foto de Krew, mas muito tempo havia passado para que tivesse certeza absoluta. Kathleen Johns foi contatada. Se alguém conhecia bem o Zodíaco, era ela e Hines colocou 18 fotos em linhas para sua avaliação. Ela apontou para Krew, comentando apenas que ele parecia mais novo do que na foto, onde estava sem óculos.
Apesar de todos esses resultados obtidos na investigação de Hines, os oficiais responsáveis pelo caso não concordaram com ele. Acreditavam que o Zodíaco era Allen.
Outro sobrenome utilizado por Krew era Kane, provavelmente o verdadeiro. Se for verdade, o criptograma contendo o nome do Zodíaco, conforme o prometido por ele, estava certo. O nome Kane aparecia no criptograma de 20 de abril de 1970.
O Zodíaco também enviou cartas assinadas como “Um cidadão”, em maio de 1974. Seria uma alusão ao filme Cidadão Kane, um dos mais famosos da história do cinema.
Em 1999, Lawrence Kane estava vivendo em Nevada, EUA.
Andrew Todd Walker
Foi o primeiro suspeito no caso do Zodíaco. Era um homem de meia-idade, usava óculos de aro de tartaruga, pesava mais de 90 quilos, media 1,83 metro e era barrigudo. Alguns dos amigos de Darlene Ferrin o reconheceram em fotos como o homem que a seguia.
Num dos criptogramas do Zodíaco, decifrado pelo computador da Agência de Segurança Nacional Americana, o nome Walker aparecia diversas vezes.
A casa dele sofreu uma inundação na mesma época em que o Zodíaco escreveu que foi inundado pela chuva. Walker vivia numa área deserta, cercada por pinheiros, o que combinava com outro trecho de uma das cartas enviadas pelo Zodíaco, em que afirmava estar olhando através dos pinheiros. Também era sócio do Sierra Club, que foi mencionado na mesma carta.
Ensinou códigos no exército depois de servir como estudante por um curto período de tempo, indicando sua forte aptidão nesta área. Viveu em Vallejo no fim dos anos 60 e era considerado sexualmente perturbado.
A discrepância estava em sua caligrafia, que não combinava com a do Zodíaco, além das impressões digitais, que não eram as mesmas encontradas no táxi de Stine. A adolescente que viu pela janela a morte de Stine também o considerou muito velho e gordo, diferente do homem que vira saindo do táxi.
Rick Marshall
Outro forte suspeito de ser o Zodíaco foi Rick Marshall, colecionador de latas de filmes antigos. Nascido no Texas em 1928, segundo relatos de conhecidos, vivia numa área próxima a Riverside em 1966, época do assassinato de Cheri Jo Bates.
Em 1969, morava perto de onde Paul Stine foi assassinado em San Francisco. Uma ligação anônima para um detetive afirmava que Marshall tinha um amigo que guardava as latas para ele e que nessas latas poderiam estar evidências como a camisa de Stine, armas e tantas outras provas. O anônimo também acreditava que as latas poderiam explodir ao serem abertas, destruindo seu conteúdo. Marshall pegou as latas de volta em 1972.
Esse suspeito, também fã de Gilbert e Sullivan, tinha treinamento em códigos e possuía uma máquina de costura em casa, que poderia ter sido usada para confeccionar a roupa utilizada no assassinato do lago Berryessa. Trabalhou na projeção de filmes de cinema mudo e os colecionava e o Zodíaco fez várias referências, em suas cartas, aos filmes The Most Dangerous Game, O Fantasma da Ópera e O Exorcista.
Marshall era ambidestro, e sua descrição física combinava com o retrato falado do Zodíaco. Usava óculos com armação de tartaruga presos por tira elástica, fora marinheiro e possuíra uma máquina de teletipo, semelhante à utilizada pelo Zodíaco em suas cartas. Tinha, na época, um amigo que confeccionava cartazes para cinema, cuja caligrafia era bastante similar a do Zodíaco e facilmente poderia ter sido imitada.
Durante os três anos, entre 1975 e 1978, saiu do Estado. Nesse intervalo de tempo, nenhuma carta do Zodíaco foi recebida. Morava a um quarteirão de Darlene Ferrin e seu marido em San Francisco.
Nunca foi descartado como suspeito. Em 1989, trabalhava como engenheiro na empresa Tektronix. Seu último endereço conhecido é em San Rafael, Califórnia. A carta do Zodíaco datada de 8 de julho de 1974 foi postada na mesma cidade.
Outros suspeitos
Michael O’Hare poderia ser o Zodíaco, se considerarmos sua inteligência brilhante, sua habilidade como atirador e seus conhecimentos profundos em código morse e matemática binária. Nunca se conseguiu conectá-lo a nenhuma vítima ou cena de crime do Zodíaco.
Bruce Davis era membro da família Manson (serial killer que assassinou Sharon Tate). Morava na área da baía de San Francisco na época dos crimes, mas nada além disso o ligava ao Zodíaco, apesar de alguns acreditarem numa conexão entre o Zodíaco e Manson.
A Psicologia do Caso Zodíaco
Ainda existe grande interesse nesse assassino. Ele foi único. Era preciso e meticuloso em seus padrões de comportamento e pensamento.
O Zodíaco sempre matou em fins de semana, perto de água ou em lugares com nomes referentes à água. Seus crimes sempre aconteceram em feriados ou vésperas, como podemos ver a seguir:
– Cheri Jo Bates foi morta momentos antes da meia-noite de 30 de outubro, Halloween.
– David Faraday e Betty Lou Jensen foram mortos em 20 de dezembro, cinco dias antes do Natal.
– Darlene Ferrin foi morta em 4 de julho, Dia da Independência americana.
– Cecília Shepard foi esfaqueada no primeiro dia do feriado judaico de Tabernáculos.
– Paul Stine foi morto no Dia de Colombo.
– Kathleen Johns foi raptada no dia do equinócio da primavera.
Todas as datas coincidem com fases da lua nova. Saturno era visível, assim como a Estrela da Noite, na hora dos assassinatos.
Todos os 340 caracteres cifrados em símbolos foram retirados de horóscopos. Acredita-se que o Zodíaco era do signo de touro, pois escondeu cinco símbolos deste signo em suas cartas.
Sua insígnia, um círculo cruzado, representava os solstícios e equinócios: solstício de verão, de inverno; equinócio vernal (da primavera) e de outono.
O Zodíaco atacava casais adolescentes. Usava armas diferentes a cada ataque, entre revólveres e facas. Um carro sempre estava envolvido.
Sua aproximação era sistemática: sempre ao anoitecer ou fim da noite. Sempre comunicava seus assassinatos por carta ou telefone, demonstrando que precisava de atenção.
Nunca molestava sexualmente suas vítimas e seu perfil elaborado pelos investigadores do caso concluiu que matar era a única relação possível para ele com uma mulher. Era provável que tivesse uma mãe dominadora e desejo sexual por ela, que seria seu verdadeiro alvo, como também prazer sexual ao matar, atingindo o orgasmo enquanto esfaqueava ou atirava em suas vítimas repetidamente.
Um escritor que dizia conhecer a identidade do Zodíaco, afirmava que ele tinha obsessão pela água, relógios, binários matemáticos e pelo escritor Lewis Carroll.
Robert Graysmith, autor do livro mais famoso sobre o Zodíaco, também afirmava conhecer a identidade dele. Descrevia-o como molestador de crianças e o responsabilizou por 49 possíveis vítimas, entre outubro de 1966 e maio de 1981.
O Zodíaco tinha treinamento nas seguintes áreas:
– Dispositivos explosivos
– Criptografia
– Astrologia
– Química
– Armas
Conhecia em profundidade os seguintes assuntos:
– Gilbert e Sullivan
– Língua inglesa
– Motores de carro
– Cultos ancestrais
– Cinema
– Costura
Sabia como não deixar impressões digitais ou pistas, o que provavelmente aprendeu na prisão. Tinha habilidade excepcional com armas, era ambidestro e pode ter trabalhado na polícia ou na marinha.
Jamais foi encontrada alguma evidência nos locais de crime do Zodíaco, mas em 2002 investigadores do caso resolveram tentar utilizar a ciência e suas modernas técnicas para extrair o DNA da saliva contida nos selos das cartas que o famoso assassino enviou para a imprensa e polícia na época de seus crimes.
Cientistas forenses utilizaram-se da reação em cadeia pela polimerase, técnica que faz numerosas cópias de específicos segmentos de DNA com rapidez e acuidade. Esse processo também permite que se obtenha uma enorme quantidade de DNA, que poderá ser utilizada em várias análises forenses.
Para surpresa de muitos, Arthur Leigh Allen, por intermédio de material extraído de tecido cerebral proveniente de sua necropsia, foi eliminado como o autor das “lambidas” nos selos das cartas. Será que o Zodíaco era tão inteligente a ponto de utilizar propositalmente outra pessoa para lamber e colar os selos que utilizava nas cartas que enviava?
Em 2 de abril de 2004, o Departamento de Polícia de San Francisco encerrou as investigações dos homicídios executados pelo Zodíaco. Foi a primeira vez que as investigações de um caso de homicídio não resolvido foram abandonadas por esse departamento.
Escritor afirma que seu pai era o zodíaco
O autor de um livro lançado nos EUA afirma ser o filho do notório – e até hoje anônimo – serial killer conhecido como Zodíaco, criminoso que aterrorizou o norte da Califórnia nos anos 1960 e cuja história virou um filme dirigido por David Fincher.
Gary L. Stewart, que escreveu “The most dangerous animal of all” (O animal mais perigoso de todos, em tradução livre) com a jornalista Susan Mustafa, descobriu evidências que “identificam seu pai como o assassino Zodíaco”, quando embarcou numa jornada para descobrir quem era seu pai biológico, explica a descrição do livro escrita pelos editores da Harper Collins. O livro afirma ter “evidências forenses” e um “arrepiante perfil psicológico” que identificam o criminoso.
Stewart, vice-presidente de uma empresa de limpeza na Louisiana, não é o primeiro a afirmar ter provas de identidade do assassino. Em 1991, um advogado disse que seu falecido irmão, Jack Steadman Beeman, seria o responsável pelos crimes. A polícia de São Francisco investigou em 1996 ligações entre o Assassino do Zodíaco e o “Unabomber” Theodore Kaczynski, que matou três pessoas e feriu muitas outras durante uma série de ataques a bomba entre 1978 e 1995.
O personagem ganhou esse nome por enviar para jornais locais cartas com elaborados códigos indicando suas futuras vítimas. Ele seria responsável por vários casos de assassinato não resolvidos na região de São Francisco. A última carta, recebida em 1969 após a morte de um taxista, dizia que aquele era o último crime.
O filme
O filme “Zodíaco”, de 2007, com Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo no elenco, foi inspirado numa investigação do jornalista Robert Graysmith, do “San Francisco Chronicle”, para tentar descobrir a identidade do assassino.