John Wayne Gacy Jr., nascido em Chicago em 1942, teve uma infância traumática: era espancado e chamado de “bichinha” pelo pai alcoólatra, sofreu um traumatismo craniano aos 15 anos e em 1968 foi preso por estar praticando atos sexuais com um jovem no banheiro de um bar. Gacy começou a matar em 1972 e suas vítimas eram todas do sexo masculino. Os rapazes recebiam propostas de emprego, iam até a casa de Gacy, eram embebedados, amarrados em uma cadeira e violentados.
Um representante do Partido Democrata local que em 1978 apertou a mão da então primeira dama dos Estados Unidos Rosalynn Carter; um empresário bem sucedido que fazia caridades; um adulto que vestia roupa de palhaço para entreter criancinhas. Esse cidadão era um modelo, mas por trás da pintura de sua máscara de palhaço Pogo, John Wayne Gacy Jr. escondia um chocante segredo. Enterrados sob o chão de sua casa, na periferia de Chicago, estavam os corpos de 28 homens, a maioria adolescentes. O vigésimo nono estava concretado no jardim. O mesmo jardim onde ele promovia animados churrascos para os vizinhos. Já o trigésimo, o trigésimo primeiro, o trigésimo segundo e o trigésimo terceiro corpos, boiavam em um rio nas proximidades. Não cabia mais em seu cemitério particular, além do mais, como ele mesmo disse: “cavar dava dor nas costas”. A sociedade americana ficou chocada quando John Wayne Gacy confessou seus terríveis crimes. Anos depois, numa tentativa de evitar sua execução, ele tentaria se retratar. Mas falhou. Em 10 de Maio, completou-se 20 anos da execução de um dos mais famosos serial killers do século 20.
Em 10 de Maio de 1994, uma multidão se reuniu em frente ao Centro Correcional Stateville, em Crest Hill, estado do Illinois, entoando o cântico da morte “mate-o!”. O homem de 52 anos estava resignado. Como poderiam executar alguém como ele? Ele tinha apenas removido alguns “vagabundos” das ruas e se tivessem que tê-lo prendido, a acusação não deveria ser por assassinato, e sim por ter “um cemitério em casa sem licença para isso”. Solicitado para dizer suas últimas palavras, ele disse, “beije o meu cu”.
Antes de seus crimes, Gacy, proprietário de uma empresa de construção, parecia o cidadão perfeito: um homem de espírito cívico, que regularmente vestia sua roupa de palhaço Pogo para entreter crianças nos hospitais e nas ruas. Para aqueles que o conheciam, ele também parecia ser um pai dedicado, que amava seus filhos e enteados. Mas o que era desconhecido de todos era a sua doentia paixão por adolescentes.
Em 1968, foi preso por sodomia e condenado a 10 anos de prisão, mas o bom comportamento fez com que o liberassem pouco menos de dois anos depois. Em 1972, sua onda de matança começou. A nova mulher e os filhos estavam fora e Gacy deu carona a Tim McCoy, de 16 anos, que viajava de Michigan para Omaha. O serial killer prometeu deixar o garoto em torno de Chicago e ofereceu a ele um lugar para ficar. No entanto, o levou para sua casa, o amarrou, o estuprou e o esfaqueou. Dave Hachmeister, que investigou os crimes de Gacy, acredita que este primeiro assassinato foi impulsivo. Mas certo mesmo foi o sentimento de prazer que se apoderou de sua mente após a experiência. “Ele realmente não tinha planejado matá-lo. Mas eu acho que uma vez que ele fez aquele movimento, isto deu a ele a viagem suprema.”, disse o policial no documentário A Monster in Disguise, do Biography Channel. Depois de matar Tim, Gacy o enterrou debaixo de sua casa. O mesmo destino das próximas 27 vítimas.
A segunda pobre alma, John Butkovich, 17 anos, era funcionário de sua empresa. Gacy levou o adolescente até sua casa dizendo a ele que queria resolver pendências de salários atrasados. Chegando lá, Gacy usaria de uma tática que enganaria Butkovich e dezenas de outros que viriam a seguir: o truque das algemas. “Ei cara, a propósito, está vendo estas algemas? Faço um truque com elas que você nem imagina!” Uma vez que o adolescente prendeu as próprias mãos nas algemas, Gacy o espancou, retirou suas roupas, amordaçou-o com sua própria cueca e o estuprou. Após o abuso, Gacy enrolou uma corda em volta do pescoço do adolescente e colocou um cabo de martelo entre os nós. “Cortava o ar”, explicou o serial killer na famosa entrevista para a rede CBS em 1992. “Foi o único nó que aprendi. Então, se você for matar alguém, você simplesmente coloca em torno do pescoço e então torce [o cabo] três ou quatro vezes ou o que seja, até a pessoa parar de se mover.”, conclui ele demonstrando a técnica com um barbante dado pelo entrevistador, no momento mais bizarro da entrevista.
A separação de sua segunda esposa alguns anos depois deixou o caminho livre para ele pegar mais garotos. Muitas das vezes ele vestia sua roupa de palhaço e recitava passagens da Bíblia enquanto os torturava e estrangulava. Virou parte de sua assinatura: o truque das algemas -> vestir a roupa de palhaço -> torturar e estuprar o garoto -> estrangulá-lo com a corda e o cabo do martelo -> enfiar na garganta da vítima a sua própria cueca -> e por fim enterrá-lo em seu cemitério particular.
Talvez, o único a sobreviver aos letais ataques de Gacy tenha sido seu empregado David Cram. David foi contratado por Gacy para ajudá-lo a cavar um buraco debaixo de sua casa. O serial killer estava preparando o terreno para mais vítimas e David quase foi parar lá. Para o garoto, Gacy disse que o buraco era para ele colocar canos.
Um dia David foi até a casa do patrão e o viu bebendo e usando uma roupa de palhaço. Gacy olhou para ele e usou do velho truque das algemas. “Um dia fui até sua casa e quando entrei ele estava bebendo e vestido de palhaço. Me chamou para beber com ele e de repente eu estava com meus punhos algemados. Ele começou a rir como um palhaço. Ele agia e falava como um palhaço. Começou a latir como um cachorro e a falar que iria me estuprar. Disse a ele que ou tirava as algemas ou eu chutaria seu traseiro. Ele me puxou para o seu quarto e começamos a nos agredir, de alguma forma peguei as chaves e saí correndo de lá”, disse David Cram para o Biography Channel. Nesse ano, 1977, Gacy assassinou 19 rapazes.
Embora algumas de suas vítimas fossem conhecidos, empregados, ou garotos que iam até sua casa para pedir emprego, uma grande parte eram garotos de programa e jovens fugidos de casa. Gacy – às vezes fazendo-se passar por policial – caçava vítimas com seu Oldsmobille preto em terminais de ônibus ou em uma área local frequentada por gays conhecida como Bughouse Square (Praça do Manicômio). Retornando para casa com o rapaz escolhido, ele o algemava, sodomizava e torturava durante horas antes de cometer a atrocidade final, atingindo o orgasmo sexual enquanto a vítima era estrangulada até a morte.
A onda de matança finalmente acabou quando Robert Piest, 15 anos, desapareceu. O adolescente, que estudava de manhã e trabalhava em uma farmácia a tarde, disse à sua mãe que iria falar com um empreiteiro sobre um trabalho no ramo da construção. Ele nunca mais foi visto.
Diferentemente das famílias de outras vítimas de Gacy, os pais de Robert foram capazes de convencer a polícia a investigar. Logo eles bateram à porta do cidadão modelo da cidade: John Wayne Gacy. Puxando sua ficha, investigadores descobriram sua condenação por sodomia dez anos antes. Um mandato de busca foi obtido e a polícia encontrou vários itens suspeitos em sua casa, mas o que mais chamou a atenção dos investigadores foi o cheiro podre que o lugar exalava. Pouco antes do Natal de 1978, Gacy foi preso e os investigadores começaram a cavar o porão de sua casa. Nos dias seguintes, vizinhos incrédulos e a mídia do país inteiro assistiriam à sombria procissão de investigadores usando máscaras saindo em fila indiana carregando corpos e mais corpos.
Gacy foi diagnosticado como psicopata; pseudo neurótico; personalidade fronteiriça; narcisista; mentiroso patológico e com dupla personalidade. Mas nada disso convenceu o júri: apesar do seu apelo de insanidade, ele foi considerado são e condenado a morrer por injeção letal.
Assim como centenas de outros casos envolvendo serial killers, os motivos por trás dos seus horrendos crimes permanecem um mistério. Quando criança, Gacy lutou para ter a aceitação do seu pai bêbado que o via como um “covarde” e dizia que ele não seria nada na vida. Na escola, ele não foi aceito por outras crianças, provavelmente devido a um problema de saúde que o impedia de brincar com elas. Mas aos 30 anos, quando começou sua onda de assassinatos, Gacy era um homem que encontrara o sucesso com sua empresa de construção civil, assim como altas e importantes posições em organizações civis e políticas.
Em 2010, Karen, irmã do serial killer, foi até o programa de Oprah Winfrey e disse que o interesse do irmão em coisas como jardinagem, culinária e panificação (quando adulto ele chegou até a dar uma entrevista para um programa de culinária), perturbavam o seu pai, que segundo ela tinha um temperamento forte. “Meu pai, em muitas ocasiões, o chamava de maricas. E ele não era do tipo que ficava alegre quando bebia, então tínhamos que tomar cuidado. John sentia-se como se nunca correspondesse às expectativas do pai e isso o trilhou por toda sua vida adulta, até o momento em que ele se casou e teve um filho e uma filha”, disse ela.
Certamente, além de surras regulares, John Wayne Gacy não recebeu nada além de humilhação do seu pai, que constantemente depreciava a masculinidade do filho. Sabe-se que o abuso psicológico pode ser tão devastador para o desenvolvimento emocional de uma criança quanto os maus-tratos físicos. De acordo com o psicanalista Carl Goldberg, uma criança que é sistematicamente envergonhada e humilhada – que se sente completamente inútil e indigna de ser amada – está praticamente destinada a desenvolver uma personalidade perversa. Seu sentimento de desdém por si mesmo torna-se tão profundo “que a única maneira de sobreviver é tornar-se indiferente também”. Com efeito, essa pessoa acaba por acreditar que “pode não ser digna, mas também ninguém mais é”. Convencido de sua própria maldade, ele arremete amargamente contra o mundo.
Segundo Karen, quando Gacy foi preso pela primeira vez – em 1968 -, ele insistiu que era inocente. E ela acreditou. Após ser libertado por bom comportamento, Karen o visitava regularmente, e embora notasse um cheiro estranho em sua casa, nunca suspeitou de nada. “Quando ele [e sua segunda esposa] se mudaram para lá… sempre existiu aquele tipo mofado de cheiro. Nos anos seguintes, ele continuou dizendo que havia água debaixo da casa e que ele estava tratando com cal.”
Gacy e sua segunda esposa divorciaram-se alguns anos antes dele finalmente ser preso. “Alguma coisa em seu casamento começou a separá-los. Ele sempre teve um jeito de se afastar das pessoas e eu acho que foi isso o que ele fez. Talvez fosse um modo de proteção para ela e as crianças. Ele me disse que não era culpado por todos os assassinatos, talvez um ou dois e então eu disse, ‘Bem, então você é culpado de todos porque você não pode matar um e não ser culpado’. Sempre me senti de uma maneira enganada, pois eu não conhecia uma parte dele. Eu sempre falei para meu marido e família que não gostaria que ele andasse novamente na face da terra. Eu o amava como irmão, mas não gostava de nada sobre o que ele fez.”, diz Karen.
Em 1992, sem opções de recursos contra sua pena de morte, ele decidiu dar uma entrevista para a TV. Assim como Ted Bundy havia feito três anos antes, o objetivo principal era tentar adiar ou reverter sua execução. Durante a entrevista, ele retratou de sua confissão e disse ter agido em legítima defesa em cinco dos assassinatos. “Na época da minha prisão, havia outros quatro suspeitos, todos empregados [de sua empresa], e todos tinham as chaves da casa”, disse Gacy citando os nomes dos seus ex-empregados. “Quando eles pintam minha imagem como a de um monstro, que pegava todos aqueles garotos pela rua e os golpeava como moscas, isso é ridículo.”
E foi sua imagem estragada que ele tentou redesenhar como a de um bom samaritano. Muitas vezes durante a entrevista, Gacy se colocou como um cara normal, um homem ético e de família. Como pai, ele disse ser amável e carinhoso. “Eu não acredito em bater em crianças. Eu também não acredito em estragar a natureza de uma criança”, disse ele. “Isso é loucura. Você é acusado de assassinar 33 crianças e você diz que não acredita em surras?”, replicou o entrevistador, Walter Jacobson. “Você está se baseando no lixo que ouviu de mim”, respondeu Gacy.
O serial killer respondia somente aquelas perguntas que ele considerava que poderiam favorecê-lo, mas mesmo assim, era claro seu discurso de manipulação. Ele saia pela tangente quando o assunto poderia prejudicá-lo, como na indagação do entrevistador sobre uma das vítimas, o seu funcionário John Butkovich. “Os cinco que eu sei a respeito… Butkovich não foi um dos que matei, então eu não sei nada sobre ele.”
Perguntado se tinha medo em encontrar com seu criador, o psicopata deixou claro que não. Se ele realmente acreditava no que disse ou se foi um discurso de manipulação, isso não se sabe. “Se você acredita que você viveu sua vida da maneira certa, então você não tem nada a temer, no meu caso. Eu estou bastante confortável com ele [Deus]. Estive nos serviços católicos e durante os últimos dez anos fui um servo para o padre. Eu não tenho escrúpulos em fazer isso. Estou em paz comigo mesmo.”
Durante a entrevista, Gacy aproveitou todas as chances que teve para tentar se safar, sempre se colocando como uma vítima, seja da sociedade, seja da investigação mal feita da polícia, seja do sistema que o condenou injustamente à morte. Quando o entrevistador perguntou sobre o serial killer canibal Jeffrey Dahmer, que na época era o centro das atenções nos Estados Unidos e que, assim como Gacy, era um homossexual reprimido, Gacy desconversou, mas sem antes enxergar naquela pergunta uma oportunidade para criticar o sistema judiciário americano, o mesmo sistema que não o considerou louco, “Eu não conheço o cara pessoalmente, mas eu vou te dizer uma coisa, aquilo é um bom exemplo do porque a insanidade não pertence ao tribunal. Se Jeffrey Dahmer não atende aos requisitos para ser considerado insano, então eu odiaria como o inferno o cara que fosse. Além disso, eu não tenho nenhum comentário sobre Jeffrey Dahmer, porque eu não sou Jeffrey Dahmer.” Além de criticar o sistema judiciário americano, Gacy logo corta o assunto numa tentativa de não ser comparado a alguém como Jeffrey Dahmer. Aquela entrevista era sua chance de mostrar ao país quem ele realmente era, Gacy o injustiçado, ser comparado a Dahmer ou a outros serial killers definitivamente não seria boa para sua imagem. “Berkowitz, Bundy, Williams, Charlie Manson… eu odeio quando eles me colocam no mesmo clube que eles.”, fechou Gacy.
Mas o mais assustador da entrevista foi o seu completo desdém para com as famílias de suas vítimas. Diferentemente de Ted Bundy, que em seu teatro mau feito para James Dobson disse entender a dor das famílias, Gacy deixou claro que estava pouco se lixando para eles. Nesse ponto e ao contrário de Bundy, não podemos negar que ele foi sincero e isso mostra o quanto ele tinha uma personalidade voltada para o mal. “Aquela mãe que fica na televisão o tempo todo e que acha que eu deveria levar 33 injeções… eu acho que ela deveria tomar 33 valiums e ir se deitar. Se seu filho marinheiro era tão bom, então por que diabos ele fugia de casa o tempo todo?” disse ele em referência a Delores Nieder, mãe de John Mowrey, 19 anos. Mas Mowrey não era um adolescente problemático. Ele serviu a Marinha americana e estudava para entrar na faculdade de contabilidade. Após ir até a casa de Gacy para pedir um emprego, Mowrey nunca mais voltou.
A casa de Gacy na avenida Summerdale foi demolida antes de sua entrevista para Jacobson. Apesar do lugar ter entrado para a história pelo seu porão entupido de corpos de adolescentes, Gacy apresentou-a de forma diferente ao entrevistador, numa clara tentativa de usá-la como um álibi. “Não é uma casa onde você mora e trabalha das 9 às 5 e volta para casa e é como a casa onde você vive. A sala de estar era um escritório particular, um dos quartos era um terrário, a cozinha era como uma cozinha fast food.”
Ele pintou a casa como um lugar muito ocupado para ele perder tempo com garotos, entretanto, (convenientemente) ele omitiu o fato de ter debaixo dela um espaço com 26 buracos em forma de covas, como um cemitério. Mas ele tem razão em dizer que o lugar era usado como sede da sua empresa P.D.M. Construção. E como sede, ela era frequentada por seus funcionários, alguns dos quais ele culpou pelos assassinatos.
Ele alegou que um deles, Michael Rossi, havia socializado com John Szyc na noite em que ele foi assassinado. Gacy disse que bebeu com eles na casa e depois foi embora. Quando voltou, Szyc estava morto. Ele disse que não disse nada a ninguém porque aquilo “não era da minha conta, então fiquei fora dos problemas dos outros.”
Se esta história é difícil de engolir, ele contou outra sobre estar tão drogado que não sabia o que estava fazendo. Segundo Gacy, para lidar com suas longas jornadas de trabalho, ele tomava Valium e drogado, ele poderia ter matado um ou outro. Mas e quanto ao cheiro podre do qual a vizinhança reclamava? Seria do seu cachorrinho lhasa apso que ficava trancado na cozinha o dia inteiro, urinando e defecando. Se não fosse isso, talvez fosse a bomba de esgoto.
Todas essas desculpas foram usadas como bases de suas apelações. Todas falharam.
Gacy foi um serial killer obsessivo e bastante meticuloso, características que ele manteve mesmo no corredor da morte. Durante seus anos preso ele manteve um registro detalhado do seu dia a dia, assim como um registro de tudo o que suas vítimas fizeram na vida. Daniel Yohanna, psiquiatra da Universidade de Northwestern, em Illinois, passou algumas horas analisando a entrevista de Gacy. “Gacy é muito atento a todos os detalhes, e é essa a maneira dele operar, e é assim que pessoas como ele são capazes de… realizar esses crimes e encobri-los, pois eles são planejadores e organizados”, disse o psiquiatra para rede CBS em 2012.
E ao mesmo tempo em que Gacy tentava suas cartadas, ele mergulhava no mundo da arte. “Walt Disney é um mentor para mim, eu sempre gostei de sua criatividade” disse ele a Jacobson mostrando um de seus quadros. Ele fez várias pinturas, dentre elas uma representação de Cristo, uma dos Sete Anões, uma caveira formada por pênis e corpos masculinos nus, dos serial killers Ed Gein e Zodíaco, dentre outras. Suas obras hoje são itens valiosos e bastante disputados por colecionadores do mercado de murderabilia. Seu comportamento e suas obras nos mostram um lado perverso e sombrio, mas se isso era provocação ou algo inerente, espontâneo à sua personalidade, isso é uma questão em aberto. Quando a irmã de seu último advogado, Greg Adamski, faleceu, Gacy enviou um cartão de condolências a ele. Na frente havia uma mensagem sensível e terna, mas atrás, uma foto de uma mulher nua dentro de um caixão com as pernas bem abertas. A legenda: “Nós queremos lembrar dela na morte como ela era em vida”. A piada macabra de um palhaço? A indireta de um psicopata? Ou uma mensagem sincera de condolências de uma mente perturbada?
Karen Conti, mulher de Adamski e também advogada de Gacy em seus últimos anos de vida, disse numa matéria do Chicago Ist que Gacy disfarçava sua maldade com seu charme típico dos psicopatas. Piadas e conversas fiadas entre as análises das papeladas do caso eram comuns entre eles. Certa vez, ela decidiu brincar com ele e perguntou sobre uma mulher que queria casar com Gacy. “Você está brincando comigo? Ela tem vários filhos de pais diferentes, e todos tem problemas com a lei. Você acha que eu quero entrar numa família assim?”, respondeu Gacy. O fato dele ser um serial killer e morar no corredor da morte parece não ter entrado em sua conta.
Conti e Adamski tiveram todos os seus pedidos de adiamento da execução negados. “Se John Wayne Gacy não é insano, então quem é?”, indaga Conti. O casal de advogados deixou a prisão na noite da execução do palhaço assassino.
John Wayne Gacy, 52 anos, foi executado em 10 de Maio de 1994. Do lado de fora da prisão, pessoas gritavam “mate-o! mate-o!”. Um homem usava uma peruca de palhaço, outro uma camiseta onde se podia ler “Sem lágrimas para o palhaço.” Após dizer um último adeus à sua irmã Karen, Gacy vociferou: “Este é o estado que irá me matar e que não fará a justiça!” Após dizer a famosa e última frase, Gacy fechou os olhos às 12h40 e deu um respiro fundo antes de o médico injetar a agulha. E então, houve um problema. O tubo por onde a droga estava sendo ministrada, de alguma forma, entupiu. Gacy bufou. Os atendentes da câmara da morte imediatamente fecharam as cortinas em volta dele e começaram a lutar para desentupir o tubo. Foram 18 longos minutos de agonia até o palhaço assassino finalmente morrer. Muitos jornais descreveram o episódio de “inaceitável” e “tortura”. Ativistas anti-pena de morte tiveram uma carta na manga para destilar seus argumentos nas semanas que se seguiram, já para a grande maioria dos cidadãos americanos, o fim de Gacy nada mais foi do que o grand finale de um espetáculo circense cujo personagem principal, o Palhaço Pogo, mereceu receber.
Horas depois da execução, seu corpo foi secretamente levado para um hospital próximo onde a psiquiatra forense Helen Morrison (leia também O Açougueiro de Rostov) extraiu seu cérebro. “Basicamente havia muitas questões… o que houve com seu desenvolvimento? O que houve com o cérebro? Poderíamos começar algum experimento humano?”, diz Helen no documentário do Biography Channel.
Após exames minuciosos, o que ela descobriu? Nada. Nada de anormal foi encontrado que pudesse lançar alguma luz sobre os severos problemas psicológicos de Gacy. Até os dias de hoje, John Wayne Gacy Jr. é um completo mistério.